17/04/2008

Sobre guinus, vacas, porcos e preconceito


Estava na minha cama, dando uma olhadinha na TV. Ainda é manhã aqui e umas 3 emissoras exibem documentários, esses franceses são loucos por esse gênero. O número de ducumentários exibidos por dia, mesmo nos canais abertos, é impressionante. Uma obsessão, eu diria.

E não são apenas aquelas chatices naturais, com narrações que atribuem sentimentos humanos aos animais... "o guinu macho cobiça a fêmea enquanto esta se move faceiramente".

Não, são as criancinhas da África, o samba no Rio, a vodka na Rússia, todo estereótipo possível, mais história, descobertas científicas... não tem fim.

Escrevi tudo isso para dizer que via, há pouco, um documentário sobre a vaca, na Índia, claro. Lembrei de quando comi num restaurante indiano pertinho daqui, lugar muito simpático, comida forte que deixa muitas lembranças e pouca saudade.

Não me ocorreu em nenhum momento que o hábito alimentar indiano pudesse ser diferente por conta de crenças enquanto olhava o menu. Estava pronta para até para pedir uma carninha de vaca... rs

É interessante como, no Brasil, nós não pensamos constantemente nessas diferenças. Essa falta de convivência com crenças diversas me fez entrar num açougue, também vizinho, muçulmano, e pedir um pernil... hauahuahuahuahauhauhauah Que vergonha, o atendente quase me mordeu. Que tipo de louco não sabe que eles não comem porco? Parecia uma afronta.

Mas a questão não é não ter a informação, não é exatamente ignorância, mas uma total falta de atenção, no meu dia-a-dia um muçulmano não comer porco não existe. Ou não existia, passou a existir.

Nunca tive contato com pessoas que não comiam isso ou aquilo, que não fosse por gosto. Agora fico olhando para isso admiradíssima, tenho que confessar que não entendo, não aceito, acho loucura, minha primeira reação é classificar de ignorante, enganado... mas depois penso melhor e aceito, me adapto. Conheço um homem muito inteligente, ele não come porco, conhece a explicação religiosa do fato e a histórica também. Conversa sobre qualquer assunto com grande desenvoltura, é dono de uma sensibilidade invejável, adora e promove cultura. Só que não come porco.

Eu deveria entender isso, simples assim, ele não come porco... como se ele não gostasse de feijão ou de jiló, si lá... mas no fundo não consigo e estou brigando com essa questão... COMO ELE NAO COME PORCO? PORQUE ELE FAZ UMA COISA DESSAS? PORQUE ELE ACEITA PASSIVAMENTE SER PRIVADO DAS DELICIAS DO PORCO? BISTECA, FEIJAO GORDO, TORRESMO, COSTELINHA, PERNIL... eu não aguento mais isso, não tenho pensado em outra coisa.

Mas vou parar e vou voltar ao meu estado conformado. Achando tudo natural, porque para viver aqui isso é extremamente necessário. Além de necessário é muito enriquecedor, sem dúvida. Outro dia eu conversava com o mesmo cidadão do porco, falávamos de reação de um povo à dominação, discordávamos grandiosamente e eu percebi que não era o diálogo de duas pessoas, mas o diálogo de duas civilizações... entendi muitas coisas sobre como as boçalidades se manifestam no mundo, mas eu quero escrever só sobre isso depois.

Ah... ia acabando e pensei que talvez o falta de carne de porco no organismo leve alguns povos a um estado de "nevrosia" desmedido... mas precisa de muita pesquisa para confirmar essa hipótese...

2 comentários:

Miriam disse...

Eles se horrorizam de comermos porco, nós nos horrorizamos deles não comerem. Outros não acreditam que possamos comer vaca e nós ficamos enojados como alguns comem cachorro, macaco, cobra, gafanhoto, etc. É isso, intolerância de todo lado. É bom que você está entrando em contato com tanta diferença e que apesar dos hábitos diferentes de alguns, voce reconhece neles pessoas tão boas e inteligentes como você e os que compartilham dos seus hábitos alimentares.
bjs

Helena Miranda disse...

Estou esperando o outro texto resultante das divagações sobre carne de porco e boçalidades...
Ah, hoje comi uma picanha mal passada deliciosa no almoço!