19/04/2008

Luzes x holofotes

Tenho acompanhado, pelo jornais on line, o caso da criança assassinada na zona norte de São Paulo. Como quase todo mundo, não me contenho e clico na chamadas que oferecem novidades. Quando leio, não há novidade nenhuma, o mesmo horror, a mesma matéria acrescentada de uma ou duas linhas novas, quase sempre dispensáveis. Sei da enorme probabilidade de repetição, mas volto a clicar. Deve haver infinitas explicações para esse fato, não tentarei encontrá-las. Penso que, ao menos, estou livre da TV...

Não quero repetir aqui o sensacionalismo, além de não ter leitores, elemento indispensável a essa prática, não teria esse "talento" jornalístico. Mas duas coisas me chamaram atenção, ontem. Duas colunas da folha on line, de Helio Schwartsman e de Gilberto Dimenstein.

Ao ler a primeira, pensei que adoraria ler esse texto em outra circunstância. O interesse dessa discussão independe da morte "de fato" dessa criança. Já tinha lido Philippe Ariès quando cursei um semestre de História da Cultura II. Como bem colocou Schwartsman, foi um autor criticado, mas sua contribuição é indiscutível. Adorei passar um semestre tentando "entender tempos diferentes" à partir de três pontos, o estatuto da mulher, o da criança e o casamento. Perceber a evolução desses elementos no tempo é simplesmente lindo.

Sempre fico satisfeita ao ler matérias de vulgarização (se posso classificar assim) bem feitas. Uma pena que o fato gerador seja tão triste.

Gosto de Dimenstein, mas não gostei da matéria destacada no link. Não gostei porque acho que ele se engana terrivelmente ao falar de uma "extraordinária herança" deixada por essa morte, o fato de ampliar, como nunca, o debate sobre a violência doméstica contra crianças, problema, até então, sem grande repercussão. Ele coloca que essa "morte trouxe luz a esse problema".

Eu pondero: luz e holofote não são a mesma coisa e não geram os mesmos resultados. Infelizmente, não vejo nada além do segundo item na abordagem desse caso. Depois dos holofotes apagados não sobrará muita coisa, crianças ainda sofrerão maus tratos diariamente e apenas quem se preocupará com isso são os mesmos que se preocupavam antes dessa criança ser assassinada.

Se há uma herança nesse caso, ela só pode ser extraordinariamente triste. Trata-se de arquivos e mais arquivos que provarão no curso da história a boçalidade dos nossos tempos. E não me refiro ao fato de "matarmos crianças" mas ao fato de "matarmos mentalidades".

Um comentário:

Miriam disse...

Como já escrevi sobre o assunto no meu blog e não consigo mais falar sobre isso, digo apenas que me referindo a sua postagem anterior:
VIVA E VIVAM OS PORCOS!!!!!!!!!!!!!!!HAHAHAHAHAHAHA